Iniciamos na quarta- feira de cinzas a quaresma, convocando-nos a uma caminhada de 40 dias de preparação para a Páscoa. Nesta ocasião, somos convidados nestes 40 dias a experimentar o deserto. Neste caminho de peregrinos, marcados como o povo da “nova Israel” a caminho da libertação, queremos que este tempo quaresmal seja-nos rico de conversão e experiência com a presença do Senhor.
É no deserto que os profetas e o próprio Jesus de Nazaré fazem suas mais ricas experiências com Deus. A oração, o jejum e a caridade são os pilares que sustentam a trajetória de uma humanidade sedenta e frágil na caminhada de fé. Por isso, tantas vezes, na quaresma, por não entendermos ou não arriscarmos a uma renovação interior permanecemos a mercê de uma “quaresminha” formulada de ritos mesquinhos onde não se come isso, onde não bebe aquilo e não se veste desta ou daquela maneira. Celebrar a quaresma em plenitude é iniciar uma ebulição interna, é penitenciar-se a partir do coração, conscientizando-se que “o que torna o homem impuro é o que sai dele e não o que entra”.
Ao experimentarmos o deserto interior somos interpelados a uma serena transformação, ao desnudar-se, o abrir-se a graça misericordiosa do Senhor. Assim, nesta trajetória de conhecimento interno de si, compreendemos que o nosso maior tesouro é oferecer aquilo que temos dentro de nós, saindo de nossa hipocrisia, de nossos testemunhos não vividos, de nossa bonita teoria. Portanto, é preciso ter muito amor “dentro” para poder oferecê-lo, ter fé para senti-la e diálogo para ser praticado.
Deste modo, a maior graça que poderemos ter nesta quaresma é vivenciarmos com autenticidade o nosso deserto interior, e, a oração, é o fundamento desta conquista. A oração de Jesus no Getsêmani, “Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?” é a oração que somos chamados a rezar, buscando compreendê-la em sua consumação. Este grito de Jesus transfigura-se no grito de todos os vencidos e sofridos da história, os quais, marcados por dores profundas, sentem-se abandonados inclusive por Deus.
A predisposição de Jesus convida-nos a entender que nem sempre o sucesso é sinal de ação divina e nem sempre o fracasso é condenação. Por isso, no caminho da cruz, preserva-se o anúncio do Reino calculado pelo preço da fidelidade à condenação e a morte. Esta morte de Jesus ilumina toda a vida do profeta de Nazaré. A oração de vigília de Jesus, no jardim do Getsêmani, faz do profeta, preparado para a missão. Ele já sabia que esta caminhada seria árdua e pressupunha conflitos os quais poderiam desembocar na morte. Não teve medo.
Laços foram cortados, houve tortura. A solidão é experimentada: os amigos mais próximos não puderam vigiar nem sequer uma hora. O sono dos discípulos revela a indiferença de todos. Jesus sente tristeza, solidão, a rejeição e o abandono. Houve desejo de fuga e por edificar a civilização do amor o cálice de dor não fora afastado de si e Ele opta pela escolha dura, buscando a fidelidade até o fim. Ainda no jardim do Getsêmani a cruz é vivida de forma nua e crua e aparentemente Deus está calado, silencioso e ausente. O vazio tremendo vivido por Jesus é experimentado em muitas ocasiões de deserto, e nestes momentos renova-se as energias para prosseguir.
Confrontando a oração de Cristo no Getsêmani com as nossas orações, somos chamados a perceber quais são os apelos de Deus em nossa vida. Vivendo a nossa missionariedade cristocêntrica somos convidados através da oração cotidiana a rezar a própria vida, com seus acontecimentos, alegrias, tristezas, conflitos e esperanças. E, em atitude orante, na vigilância, somos convocados a experimentar a oração de Jesus no Getsêmani no hoje de nossa sociedade.
A vigília é o tempo do combate interior. O que Deus quer não é a morte dos Filhos, criaturas esmagadas pela dor e sofrimento. A vontade de Deus é que seus Filhos sejam firmes no testemunho até o martírio. Contudo, o testemunho e a palavra que querem converter as pessoas precisam enfrentar a indiferença, a ironia, o medo, a resistência e a perseguição. Que a oração de Jesus no Getsêmani seja para nós modelo de ousadia evangélica, fazendo-nos sempre disponíveis e abertos a vivência de uma entusiasmada descoberta interior.
A você uma santa e abençoada quaresma!
Frei Weisller Jefferson dos Santos, FSMA
Frei Weisller Jefferson dos Santos, FSMA
Nossa que artigos lindo, bem explcativo, Deus abençõe sua cida meu amigo. oração de jesus no Getsêmani
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