Como seria nosso testemunho se fôssemos enviados a outro país ou a outro lugar diferente do qual vivemos? Qual é o segredo?
O que fundamenta a espiritualidade de um missionário é o despojamento. Kenosis significa esvaziamento. Por isso, aliado a um desejo de esvaziar-se de si a espiritualidade de um bom discípulo que vai ao encontro do “outro” anunciar o Evangelho deve ser permeada de um espírito de hóspede. O coração de um missionário deve ser um coração de hóspede! O hóspede, educado, nada exige, aceitando tudo com amor e humildade. Assim, quando o hóspede não é exigente, preso a seus hábitos domesticados, acaba sendo amado por todos e logo recebe aquilo que de melhor poderia ser oferecido. O despojamento cultural nos abre ao acolhimento do outro. É passar para o outro lado. É uma kénose (anular-se) à imagem de Cristo, que se despojou de suas seguranças, para identificar-se com aqueles a quem foi enviado. Deixar a sua terra é, antes de tudo, deixar a si mesmo, “descalçar-se”, perder as próprias seguranças, depor as armas, sair de si, para deixar-se acolher por outra cultura, onde o Espírito já se encontra e nos espera. O despojamento é necessário para captar os caminhos do Espírito já presente na missão. É Ele que precede o missionário e lhe indica os caminhos...
“O missionário é, assim, o primeiro a ser evangelizado. O Espírito está presente não só na história que o missionário vai encontrar, mas também na cultura e até nas crenças religiosas, como também na sua vida diária. A experiência da missão é um despojamento que permite ao missionário discernir e descobrir um novo rosto de Cristo encarnado nos povos, vivendo a sua história e os seus valores. A missão é sobretudo ajudar o povo a fazer esta descoberta”. É uma kénose, feita de disponibilidade total, de abertura ao outro, de escuta, de silêncio, de contemplação. A missão é mais paixão que ação. É preciso encantamento, apaixonar-se mesmo quando não somos compreendidos e bem acolhidos. Trata-se de se deixar moldar pela missão, de se tornar permeável no encontro com o outro e de acolher o dom alheio.
Com uma espiritualidade kenótica, nós missionários atravessamos fronteiras, não como quem dá, mas como quem recebe. Não vamos para a terra de missão com avançadas tecnologias para modernizar o subdesenvolvimento, com uma cultura superior para civilizar os bárbaros, com uma religião para acabar com as superstições, ou com uma série de verdades reveladas para ensinar aos ignorantes. A espiritualidade kenótica faz de nós missionários uma pessoa da outra margem, do outro lado, que respeita, acolhe e sabe lidar com os desafios das diferenças, seja a cultura, valores, língua-mãe, símbolos nativos, não os rejeitando, mais os acolhendo.
Que o Senhor nos ensine a irmos à missão não impondo mais compondo um cenário de irmãos que constroem um mundo desejoso de solidariedade e paz.
Weisller Jefferson dos Santos - Postulante
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